domingo, 2 de maio de 2010

Migalhas

Contento-me com migalhas

que me são lançadas

por mãos caridosas

como a alimentar

a fome que me vai na alma,

no coração...

Migalhas que já não me satisfazem,

que não saciam minha fome,

a dor da solidão,

o vazio que me vai na alma.

Migalhas que já nem sei se quero

que penso em deixar ali,

no chão, onde foram lançadas

para que aquelas mãos,

aqueles olhos,

aquele coração

perceba

que de migalhas

não se vive em plenitude.

Talvez seja hora

de bater asas para longe,

esquecer das mãos que

ali,

por tempos,

lançaram as mesmas migalhas

que me satisfaziam,

me deixavam feliz,

sorrindo,

como se viver fosse isso.

Voar, no entanto,

seria libertar-me

dos grilhões do solo,

para poder receber

o calor do sol,

em outros céus

de outros azuis,

sem olhar para trás,

sem nem mesmo

lembrar do gosto

das migalhas outrora recebidas.

As asas se abrem ao sol.