domingo, 12 de fevereiro de 2012

Nada mais a perder

E nada mais

há a perder,

a não ser

aquilo que

de forma egoísta

insistimos em guardar,

solitariamente,

no fundo do bolso

ou na penumbra

de nossas alcovas.

Perder a vida,

o amor,

o tempo,

a alegria

e até

as lágrimas

que há muito secaram.

Perder aquilo

que nem sequer sabíamos

se era nosso,

ou se foi apenas

uma fantasia,

uma peça pregada,

pelo riso da vida,

pelo escárnio

da dor.

Mas no fundo

da alma,

machucada,

solitária e doída,

uma pequena fagulha

que não quer perder,

se mantem acesa,

aquecendo

aquilo que o coração

julgou um dia ter.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Perdas

Por que ao perder

nos damos conta

daquilo que tínhamos?

De tudo que ainda

podíamos continuar,

tendo em nossas mãos,

ainda que por vezes tão fugidias

que nos parecesse tão distante,

mas que não se apartava

de nossos seres,

de nossa alma,

de nossas histórias.

O tempo que passa,

(Ah! O tempo...)

este que nos ensina

a esperar,

a refletir

se ainda é tempo

de correr,

segurar

aquilo que talvez

por mais estranho que pareça,

por mais que doa,

por mais que dilacere

a alma e o coração,

ainda não perdemos.

O que fazer para isso?

como não perder

aquilo que nos é importante?

Tantas questões

de difíceis respostas

que povoam nossa mente

e nos fazem perder mais,

mas desta vez,

perder o sono,

pensando

no que se passou.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A Dor

Dia passa,

dor fica...

Dor ora fraca,

hoje forte,

insiste em ficar

na alma ferida;

uma dor pungida

que não tem hora de passar.

Dor é como amor...

só na rima!

sem graça de doer,

fazer sofrer,

fazer chorar

lágrimas secas,

em olhos secos,

na secura de cada dia,

do fundo da alma.

Dor passa com o tempo...

não dos ponteiros

do relógio,

que insistem em rodar,

em paredes solitárias

ou nos pulsos de alguém,

mas com o tempo que ensina,

que faz pensar,

refletir para descobrir

o porquê da dor,

como afugentá-la,

como fazer desdoer

pra nunca mais senti-la,

como fazer da rima

dor-amor,

sair a dor

para ficar apenas,

ainda que solitário,

o amor.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Da alma

Quando se arranca a alma

de um coração,

a dor que a consome

serve somente

para fazer doer

o resto da alma

que ainda não foi arrancada.

A alma sangra...

a dor consome.

A alma triste...

em dores se consome!

A alma cala...

vazia e triste.

Mágoas e dores

consumindo o brilho

da alma imortal

que não sabe

o que lhe reserva o porvir.

A alma,

que se apartou do coração,

incompleta...

sofre,

sangra,

dói

e caminha cabisbaixa,

sem rumo,

sem desejo,

sem ALMA,

pois esta,

ficou pra trás

nos passos

que se fizeram arrastar.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

A Baixela Quebrada

Embora não seja de minha autoria, este conto é muito bom para refletirmos sobre seus ensinamentos. Boa leitura!



Um veneziano, mercador poderoso, fez presente a um príncipe, rei das Espanhas: deu-lhe, com outras cousas, uma baixela de vidro cristalino, dourado, de muitas e mui ricas peças, tão sutilmente lavradas, com tanta curiosidade e de tal feitio, que se não podia mais desejar.

Vista pelo príncipe, a estimar em muito, e, agradecendo-lha e pagando-lha bem, fez que o servissem com ela nos dias de maior festa, menosprezando então outras baixelas de prata dourada e ricas peças de ouro, formosas e de grande preço.

Assim, aconteceu que, tendo o príncipe uma suntuosa ceia com uns embaixadores de outros reinos, servindo-se com esta copa ou baixela, como costumava em tais tempos por maior grandeza, caiu um prato a um pajem que o levava, do que o príncipe tomou muito pesar e nojo. Porém no mesmo instante disse:

__ Não porque o nojo dure, porque isso é e como tal há-se de quebrar peça por peça, porém por poupar o nojo que pode vir quando se quebrar outra: agora, com esta consideração, mando que se quebre toda !

E assim se fez, que se quebrou a baixela por poupar os nojos que daria adiante, quebrando-se por muitas vezes. E ele ficou fora de paixão, para concluir com gosto o banquete em que estava.

Assim nós, pois, entenderemos que a fazenda, filhos, privanças e honras da terra, não há-de durar para sempre e são quebradiças como vidro. Quando se acabar qualquer cousa destas, façamos conta que são perecedoras e que por derradeiras hão-de ter fim. Não tomemos por cada uma mais nojo do que é razão; mas, conformes com Deus, por tudo lhe demos graças: porque ele, vendo nossa paciência nas adversidades, e que sabemos fazer bom rosto aos nojos e perdas que nos vêm nos dará graça com que aqui soframos nossos trabalhos, em penitência de nossos pecados; e por ela e por sua misericórdia nos dará a Glória.

(Conto de Trancoso – Portugal)