quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Sobre Mestres e Discípulos


São muitos os caminhos percorridos pelos mestres e seus discípulos. Durante essas jornadas, muito se aprende e também muito se ensina; talvez mais se aprenda do que se ensine.

Dentre os caminhos, podem surgir pedras e espinhos, desfiladeiros ou montanhas íngremes ou ainda caminhos floridos com suave e doce fragrância. Nos momentos de dificuldade, mestres e discípulos devem se apoiar mutuamente para vencerem o que lhes espera pela frente. Nestes momentos pode acontecer do discípulo superar seu mestre em alguma habilidade que domine de melhor forma.

Estaria o mestre então, fadado à desgraça por ter sido superado? Não! De forma alguma a desgraça se abateria sobre ele mas sim, a glória de ter se dedicado ao seu discípulo com tanto amor que permitiu que seus ensinamentos o fizessem crescer para um dia, como ele, tornar-se um mestre.

Se não fossem os discípulos, de que serviriam os mestres? Da mesma forma, de que adiantaria ser mestre, ensinar, se não se permitisse aos discípulos crescer e superar seu mestre? Os verdadeiros mestres sabem que não ensinam para que o discípulo torne-se eternamente dependente de suas lições. Os verdadeiros mestres sabem que ensinam seus discípulos para que possam superá-los e dar continuidade a sua obra.

Não há mais espaço para mestres absolutos! O verdadeiro mestre será aquele que prepara seu discípulo para a vida plena e para que um dia ele possa se tornar seu próprio mestre.

Cabe ao mestre indicar-lhe caminhos retos e envolvê-los com o amor necessário para vê-lo crescer. O discípulo deve sentir-se envolvido pelo seu mestre e por seus ensinamentos pois assim, sentirá o prazer do aprendizado e poderá crescer como uma frondosa árvore com raízes firmes e folhas verdes e vistosas a embelezar o mundo.

Se, de forma contrária, o discípulo sentir-se solitário, sem o envolvimento de seu mestre, o aprendizado estará fadado a cair em desgraça, juntamente com seu mestre.

Ser mestre exige que se tenha a eterna condição de discípulo e aprendiz pois, à medida que são dados os passos, aprende-se, ensina-se e torna-se a aprender.

Não existe um caminho! O mestre de olhos atentos e coração sensível aprenderá com seu discípulo qual o melhor caminho a ser seguido. De forma contrária, o mestre desatento e frio estará fadado a cair em abismos e trilhas que não o conduzirão a lugar algum que não seja o esquecimento.

O verdadeiro mestre descobrirá o caminho do coração; único que poderá levá-lo ao seu destino e, ao final de sua caminhada – Mestre e Discípulo – o que ficará para a eternidade serão suas pegadas e as sementes plantadas na fertilidade da pureza daquele que hoje ao teu lado recebe as ferramentas para um dia superá-lo e tornar-se mestre.

Discurso para minhas formandas de Pedagogia I

Queridas Alunas de Pedagogia, minhas queridas “pedadoidas”,

Conta uma história que certa vez dois homens banhavam-se em um rio quando começaram a ouvir gritos. Olharam para trás e lá estava uma criança se afogando. Rapidamente foram socorrê-la. Nem bem tinha tirado a criança da água, ouviram novos gritos. Ao olharem, viram desta vez, duas crianças se afogando. Correram para socorrê-las e nem bem tinham chegado à margem, ouviram novos gritos. Desta vez eram três crianças. Um dos homens, ao invés de correr para o socorro das crianças, começou a caminhar para fora do rio. O outro, irritado, chamou sua atenção: “Ei, você tem que me ajudar a salvar estas crianças! Não pode me deixar sozinho.” O outro, pacientemente, virou-se e respondeu: “Ao invés de apenas salvarmos estas crianças, precisamos ver de onde elas estão vindo e quem as está atirando no rio.”

Acredito que este seja o trabalho daqueles que se debruçam pelo ideal de educação.

Mais do que simplesmente nos preocuparmos com questões momentâneas que impedem o aprendizado aqueles que chegam às nossas mãos, devemos buscar a fonte de suas dificuldades e atuar diretamente nessa questão.

Ao optarmos por buscar essa fonte, deveremos ter a certeza que estaremos trilhando um caminho diferente e que com certeza nos transformará no final da jornada. Ninguém que busca transformar seres humanos consegue fazê-lo sem se transformar também. Em nossa vida atuamos como uma estação de trem. Pessoas vêm e vão e neste movimento, trazem novos saberes e sentires e levam também. Todos nos modificamos na relação com o ser.

Existem porém aqueles que optam por não atuarem desta forma. Optam por continuarem sendo apenas simples professores, grau outorgado pelos seus diplomas. Estes não quiseram atravessar a ponte ou sair do rio para ver o que estava acontecendo, não se tornarão educadores.

Ser educador implica em mudar de postura e ao fazermos isso... a contra-indicação (que não vem na bula) é que nunca mais seremos simples professores. É o preço a pagar. O que recebemos em troca? A felicidade de ver o outro se desenvolver e saber que em partes fomos responsáveis. Saber que a semente que plantamos pode germinar e dar árvores frondosas e frutos doces e perfumados. Saber que o amor que usamos para adubar gerou bons resultados.

Alias não conheço outro caminho E se existe, não quero conhecê-lo pois ao longo desses anos aprendi cada dia mais que o único caminho bom é aquele que segue a voz do coração. Erramos? Com certeza! Mas erramos com amor e mais importante com a vontade ferrenha de acertar.

Desejo que o amor permeie sua vida com seus alunos e que no futuro, ao olharem para trás, lembrem-se de quantas árvores foram plantadas nesses anos e mais ainda, quão doces são os frutos de hoje e que você, educadora ajudou a semear um futuro melhor.

Sejam felizes e se precisarem de mim, é só gritar que eu sairei do rio e irei ver o que está acontecendo.

Um grande abraço.

Discurso para minhas formandas de Pedagogia II

Contam as histórias que uma tamareira leva cerca de 100 anos para começar a dar frutos. Sendo assim, quem planta tâmaras não as colhe.

Contam que certa vez um senhor de idade avançada plantava tâmaras no deserto quando um jovem o abordou perguntando: “Mas por que o senhor perde tempo plantando o que não via colher?”. O senhor virou a cabeça e calmamente respondeu: “Se todos pensassem como você, ninguém colheria tâmaras”.

Assim é a nossa carreira de educadores, muitas vezes plantamos sem a certeza da colheita, mas mesmo assim continuamos fazendo nosso trabalho.

Durante quatro anos vocês ocuparam os bancos da faculdade, ouvindo sobre teóricos e teorias de educação que muitas vezes causaram admiração ou repulsa, mas ali estavam vocês preocupadas com o conteúdo a ser estudado, avaliações, TCC, enfim inúmeras preocupações que tiravam o sono e muitas vezes o humor.

Hoje, aqui diante de todos os que partilharam momentos de sua luta, ouso dizer, sem sombra de dúvida ou pesar que esqueçam tudo o que viram na faculdade. Esqueçam os teóricos e suas teorias, esqueçam do conteúdo livresco e dos nomes difíceis e estapafúrdios que lhes chegaram aos ouvidos.

Não parem para decorar os experimentos de Piaget ou ainda de Pavlov. Tudo isso ficou registrado em seus cadernos e apostilas. Tudo isso será esquecido por não ter se tornado significativo na vida de vocês. Aí é que está o engano, tudo isso está estampado em sua formação mas deverá ser usado de forma coerente e correta e não de uma forma meramente conteudista.

Esquecendo de todo o conteúdo livresco, quero convidá-las a atravessarem uma ponte. Digo ainda que, após esta travessia não haverá volta. É um percurso só de ida mas muito gratificante.

Convido-as a atravessarem a ponte da educação, deixando para trás o título que ora recebem e abraçando o título de educadoras. A ponte serve para unir os dois lados de um grande abismo entre professores e educadores. Ser educador é compreender no mais profundo estágio do ser qual o seu papel na formação de cidadãos e acima de tudo seres humanos.

O educador, ao contrário do professor, descobriu que as teorias da faculdade só terão sentido quando amalgamadas com uma liga inquebrável que nos faz enxergar a vida de outra forma: o amor.

O amor que determina a verdade de uma relação, que nos permite plantar tâmaras mesmo sabendo que não conseguiremos colhê-las.

É o amor que faz com que, ao chegarmos à frente de nossos alunos, olhinho ávidos pelas nossas palavras e, mesmo com dificuldades, indisciplina, nos faz olhá-los de forma diferente e saber que vários mundos estão ali.

É o amor que nos faz amar nossos alunos, cada um de um jeito diferente, mas que nos faz respeitar a todos como iguais.

É o amor que nos faz ultrapassar os conceitos das mais modernas teorias pedagógicas e colocar ao colo aquele aluno que hoje chegou carente, precisando de um colo.

É o amor que nos faz deixar de lado alguns delitos de nossos alunos, achando graça, ainda que às escondidas em suas traquinagens.

É o amor que nos faz caminhar ao lado daquele que mais precisa; que nos faz pegar em sua mão para auxiliá-lo quando lhe faltam condições.

É o amor que nos faz enxergar no aluno tido como bagunceiro, especial, limítrofe o maravilhoso ser humano em busca de crescimento.

É ainda o amor que nos faz deixar de lado o diploma de professores para nos tornarmos educadores, ainda que isto não esteja atestado em papel ou lavrado em cartório.

O amor nos mostra que, aquela semente que estamos plantando poderá dar frutos doces e perfumados ou amargos. Mesmo assim, continuamos plantando na esperança de boas colheitas.

É o amor que nos faz teimosos quando tudo nos diz ser impossível. Pois o amor não escolhe, ele é incondicional e nos mostra que a esperança é a grande companheira de nosso trabalho. A esperança de podermos contribuir com a construção de um novo mundo, de um novo ser, resgatar valores que hoje se perderam rumo a uma consciência planetária onde o homem deixe de ser o lobo do homem.

Amor, esperança, fé são elementos que não recebemos em nossos livros e conteúdos mas que estão em nosso ser, esperando apenas o momento certo de eclodir e nos transformar. O momento é nosso e somente nós mesmos poderemos escolher qual o melhor.

A ponte está à nossa frente, porém os passos também são nossos e somente poderemos galgá-la quando escolhermos isso. Ninguém poderá nos empurrar ou carregar no colo; os passos devem ser nossos e o caminho faremos caminhando. No entanto, quero lembrá-las que não há volta, uma vez transformadas em educadoras, não há como voltar a ser apenas professoras. O amor, a fé, a esperança irão contagiá-las e, inseridas em seu ser não permitirão jamais que, ao olharem para um aluno deixem de enxergar o maravilhoso ser humano que lhes chega às mãos.

Esqueçam das teorias e de muitas de minhas palavras. Muitas foram ditas e perdidas ao vento; ou ainda ouvidas sem muita atenção. Talvez tenham sido teorias e palavras vazias.

Esqueçam de tudo mas lembrem-se sempre e confiem no amor pois somente com ele vocês poderão vencer em sua profissão mas, acima de tudo, serem felizes.

Se posso deixar algo para vocês, deixo o desejo da felicidade a acompanhá-las em sua caminhada profissional, o amor que transforma e abrasa as dificuldades encontradas e principalmente, a minha amizade e a cumplicidade desses anos que ficaram para trás.

Muito obrigado!