quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Discurso para minhas formandas de Pedagogia II

Contam as histórias que uma tamareira leva cerca de 100 anos para começar a dar frutos. Sendo assim, quem planta tâmaras não as colhe.

Contam que certa vez um senhor de idade avançada plantava tâmaras no deserto quando um jovem o abordou perguntando: “Mas por que o senhor perde tempo plantando o que não via colher?”. O senhor virou a cabeça e calmamente respondeu: “Se todos pensassem como você, ninguém colheria tâmaras”.

Assim é a nossa carreira de educadores, muitas vezes plantamos sem a certeza da colheita, mas mesmo assim continuamos fazendo nosso trabalho.

Durante quatro anos vocês ocuparam os bancos da faculdade, ouvindo sobre teóricos e teorias de educação que muitas vezes causaram admiração ou repulsa, mas ali estavam vocês preocupadas com o conteúdo a ser estudado, avaliações, TCC, enfim inúmeras preocupações que tiravam o sono e muitas vezes o humor.

Hoje, aqui diante de todos os que partilharam momentos de sua luta, ouso dizer, sem sombra de dúvida ou pesar que esqueçam tudo o que viram na faculdade. Esqueçam os teóricos e suas teorias, esqueçam do conteúdo livresco e dos nomes difíceis e estapafúrdios que lhes chegaram aos ouvidos.

Não parem para decorar os experimentos de Piaget ou ainda de Pavlov. Tudo isso ficou registrado em seus cadernos e apostilas. Tudo isso será esquecido por não ter se tornado significativo na vida de vocês. Aí é que está o engano, tudo isso está estampado em sua formação mas deverá ser usado de forma coerente e correta e não de uma forma meramente conteudista.

Esquecendo de todo o conteúdo livresco, quero convidá-las a atravessarem uma ponte. Digo ainda que, após esta travessia não haverá volta. É um percurso só de ida mas muito gratificante.

Convido-as a atravessarem a ponte da educação, deixando para trás o título que ora recebem e abraçando o título de educadoras. A ponte serve para unir os dois lados de um grande abismo entre professores e educadores. Ser educador é compreender no mais profundo estágio do ser qual o seu papel na formação de cidadãos e acima de tudo seres humanos.

O educador, ao contrário do professor, descobriu que as teorias da faculdade só terão sentido quando amalgamadas com uma liga inquebrável que nos faz enxergar a vida de outra forma: o amor.

O amor que determina a verdade de uma relação, que nos permite plantar tâmaras mesmo sabendo que não conseguiremos colhê-las.

É o amor que faz com que, ao chegarmos à frente de nossos alunos, olhinho ávidos pelas nossas palavras e, mesmo com dificuldades, indisciplina, nos faz olhá-los de forma diferente e saber que vários mundos estão ali.

É o amor que nos faz amar nossos alunos, cada um de um jeito diferente, mas que nos faz respeitar a todos como iguais.

É o amor que nos faz ultrapassar os conceitos das mais modernas teorias pedagógicas e colocar ao colo aquele aluno que hoje chegou carente, precisando de um colo.

É o amor que nos faz deixar de lado alguns delitos de nossos alunos, achando graça, ainda que às escondidas em suas traquinagens.

É o amor que nos faz caminhar ao lado daquele que mais precisa; que nos faz pegar em sua mão para auxiliá-lo quando lhe faltam condições.

É o amor que nos faz enxergar no aluno tido como bagunceiro, especial, limítrofe o maravilhoso ser humano em busca de crescimento.

É ainda o amor que nos faz deixar de lado o diploma de professores para nos tornarmos educadores, ainda que isto não esteja atestado em papel ou lavrado em cartório.

O amor nos mostra que, aquela semente que estamos plantando poderá dar frutos doces e perfumados ou amargos. Mesmo assim, continuamos plantando na esperança de boas colheitas.

É o amor que nos faz teimosos quando tudo nos diz ser impossível. Pois o amor não escolhe, ele é incondicional e nos mostra que a esperança é a grande companheira de nosso trabalho. A esperança de podermos contribuir com a construção de um novo mundo, de um novo ser, resgatar valores que hoje se perderam rumo a uma consciência planetária onde o homem deixe de ser o lobo do homem.

Amor, esperança, fé são elementos que não recebemos em nossos livros e conteúdos mas que estão em nosso ser, esperando apenas o momento certo de eclodir e nos transformar. O momento é nosso e somente nós mesmos poderemos escolher qual o melhor.

A ponte está à nossa frente, porém os passos também são nossos e somente poderemos galgá-la quando escolhermos isso. Ninguém poderá nos empurrar ou carregar no colo; os passos devem ser nossos e o caminho faremos caminhando. No entanto, quero lembrá-las que não há volta, uma vez transformadas em educadoras, não há como voltar a ser apenas professoras. O amor, a fé, a esperança irão contagiá-las e, inseridas em seu ser não permitirão jamais que, ao olharem para um aluno deixem de enxergar o maravilhoso ser humano que lhes chega às mãos.

Esqueçam das teorias e de muitas de minhas palavras. Muitas foram ditas e perdidas ao vento; ou ainda ouvidas sem muita atenção. Talvez tenham sido teorias e palavras vazias.

Esqueçam de tudo mas lembrem-se sempre e confiem no amor pois somente com ele vocês poderão vencer em sua profissão mas, acima de tudo, serem felizes.

Se posso deixar algo para vocês, deixo o desejo da felicidade a acompanhá-las em sua caminhada profissional, o amor que transforma e abrasa as dificuldades encontradas e principalmente, a minha amizade e a cumplicidade desses anos que ficaram para trás.

Muito obrigado!

Um comentário:

  1. Querido e inesquecivel professor Robson, sábias palavras. Eu gostaria muito de lhe agradecer por toda experiencia passada pra nós em seu pequeno momento com nós, alunas da Faculdade Chafic, pequeno momento, mas grande convivio, a ponto de não esquecermos de seu carinho, atenção e acima de tudo dedicação e esperança em nós. Hoje conseguimos nos formar (30/06/2009)e sem querer vejo em seu bolg estas mensagens lindas, porem tenho certeza que nem deves se lembrar de nós, mas com toda certeza levarei esta menagem como se fosse tambem para nós, afinal nossa turma, pequena, nunca o esqueceu. Sempre foi muito lembrado e querido. Beijo enorme. E a gente se vê neste mundo da Educação.Com carinho Imenso Cristina Maturana.

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