quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Segunda Carta ao Filho

Filho!

Nunca imaginei que seria mais difícil ainda vê-lo crescer! E crescer tão rapidamente como vejo que o faz. Algumas coisas ainda precisam ser ponderadas, calculadas com calma para que não haja arrependimentos no futuro, para que não modifiquem demais os planos que ora traçou, embora algumas mudanças sempre aconteçam ao longo do caminho.

Algumas vezes a mão pesada de pai precisa falar mais alto, pois ser pai implica, em muitas vezes, dizer não enquanto outros dizem sim, te empolgam e levam-no a pensar-se invencível. A experiência me ensinou que muitas vezes, quando a botina aperta, alguns desses mesmos amigos não estarão ao seu lado para ajudá-lo a resolver a situação, sair do buraco ou do atoleiro de lama.

Se brigas fazem parte da relação pai e filho por que doem tanto quando ocorrem? Se te dói ouvir, me dói falar, brigar e repreendê-lo quando na verdade somente o amor deveria permear tão maravilhosa relação.

Se sou perfeito? Nunca! Estou em constante aprendizado e por isso mesmo me coloco como imperfeito aprendiz. Você talvez não me enxergue dessa forma, pois o amor faz isso com as pessoas, não nos deixa enxergar os erros que aqueles que amamos possuem. Não é diferente comigo! Também não enxergo seus erros pois para mim eles não existem. É perfeito no meu amor, no tanto que te amo e no tanto que se faz importante em minha vida. Importância tão grande que algumas vezes me faz querer protegê-lo da primeira gota de chuva e de tudo que possa atingi-lo, ainda que eu saiba que precisa passar por isso para aprender e que só ao se molhar, aprenderá a se enxugar. Ainda assim, por mais que eu saiba disso, não pense que será fácil vê-lo cair, ainda que eu esteja ao seu lado para ajudá-lo a se levantar.

A vida que se descortina à sua frente é diferente daquela que um dia se descortinou para mim, as mudanças do mundo serviram para torná-lo mais dinâmico, mas também mais perigoso o que faz com que as preocupações de um pai que ama seu filho cresçam também, até porque quem ama cuida!

Quero que viva plenamente, curta sua fase mas sempre com a responsabilidade, com os valores e a educação que um dia pude plantar em seu ser. Nunca se esqueça de quem você é, ainda que muitos queiram dobrá-lo para ser da forma como eles gostariam que você fosse. Pessoas entrarão e sairão de sua vida e ao fazerem isso, deixarão lembranças, saudades e dores que somente serão amainadas com o amor verdadeiro que por mais que brigue, canse de falar, reclame, nunca te deixará caído pois por amá-lo, meu filho, ao te ver caindo, sentir-se-á caindo também. Ao vê-lo vencendo, sentir-se-á vencedor também e ao vê-lo seguindo em frente quererá acompanhá-lo ainda que o bater de asas de um filho seja mais vigoroso do que aquelas asas que há muito voam por aí.

Talvez esse seja o papel do pai, ser pai, amar seu filho ainda que as turbulências surjam e as águas calmas tornem-se revoltosas pois, após tudo isso, a calmaria volta, deixando cristalina as águas por onde os ventos passaram. Somente o amor verdadeiro trará de volta a calmaria para as cristalinas águas da relação pai e filho que se amam de verdade e que, mesmo nesses momentos, não deixam que o verdadeiro sentimento se abale.

Siga em frente meu filho, sei que carrega em você um pouco de mim e que essa fagulha te guiará em muitas situações. Ouça sua intuição, ainda que seu coração queira calá-la muitas vezes. Intuição é uma bússola que nós desaprendemos a usar devido à nossa racionalidade. Busque-a em você para que as dificuldades se minimizem e você possa escapar de algumas armadilhas do tempo e da vida!

Com amor,

Seu pai

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Estou cansado

Estou cansado...

Cansado de insistir em algo

que me parece ter sido negado

em outros tempos

ou existências.

Cansado de tentar

seguir em frente,

sair da escuridão

da caverna de minh´alma

quando nada acontece.

Estou cansado...

Bate-me o sono

e a vontade de deitar

para não mais me levantar,

não mais ouvir a voz

ou as vozes

que seduzem

para depois deixarem de lado,

sem memórias

sem desejos

ou lembranças

de algo que foi vivido

talvez sentido...

Estou cansado...

não quero mais buscar

o que não me traz

descanso para minh´alma,

para meu coração

que sofre

cansado de bater

por caminhos que

nada valem!

domingo, 22 de agosto de 2010

20 anos de caminhada!


Amigos,

Hoje, exatamente hoje, nessa data há vinte anos atrás eu, pela primeira vez adentrava o espaço da sala de aula como professor. Data histórica para minha carreira e que me traz muitas lembranças...
Um caminho longo de erros e acertos, vitórias e derrotas mas de um amor incondicional pela carreira que um dia resolvi abraçar. Um caminho nem sempre suave, muitas vezes pedregoso e com dificuldades para seguir em frente.
Quantos passaram pelas minhas mãos, ouviram minhas palavras e aprenderam algo comigo. Quantos desses me ensinaram tanto... Me ensinaram a deixar de ser professor e me tornar um educador. Alguém que pudesse olhar para o aluno não como um número, um a mais, mas como um ser humano único e maravilhoso que estava ali, cheio de possibilidades para aprender-ensinar. Um ser humano que me chegava às mãos como um presente, uma oportunidade de ensinar e aprender, de fazer algo pelo ser humano, de olhos miúdos, assustado algumas vezes querendo aprender.
Algumas vezes me colocava como um algoz, o carrasco para muitos... mas o tempo é o melhor mestre e a experiência também. Aliados me ensinaram que o melhor mestre ajuda seu discípulo a crescer, a ser alguém melhor, a ser diferente de quando ali chegou.
Só o tempo mesmo para nos mostrar o quanto somos incompletos e quanto ainda temos que aprender...
Vinte anos não são vinte dias, vinte minutos, vinte horas ou vinte segundos... é um tempo longo e posso dizer que, hoje, ao olhar para trás gostaria de voltar no tempo para desfazer erros e injustiças que cometi por imaturidade ou orgulho. Alunos que reprovei sem ajudá-los quando podia fazê-lo. Outros que deixei de abraçar quando me pediam apenas carinho...
O tempo me ensinou a não perder oportunidades para ensinar, abraçar, amar, aprender e querer fazer o melhor pelo ser humano que se encontra ali.
Hoje, vinte anos depois, comemoro uma caminhada e como o formando, que saiu para o mundo acadêmico munido de seu diploma de magistério, me reafirmo aprendiz e com a humildade de quem caminhou um pouco mais, peço perdão àqueles que porventura deixei de ajudar a crescer, deixei de amar, deixei de abraçar, deixei de SER, junto com eles. Perdoem a falta de experiência e imaturidade profissional. Sei que seguiram em frente e tenho a certeza de que muitos continuam vencendo na vida e voam alto onde espero um dia, ainda que com as asas cansadas, vê-los vencendo obstáculos e desafios como aqueles que julgo ter vencido e, tenham a certeza meus queridos alunos, com a ajuda de cada um de vocês.
Se hoje, ao olhar para trás, vejo meu crescimento e busco crescer mais, cada um de vocês foi importante em meu caminho, semeando sorrisos, sonhos, esperanças, dificuldades, sucessos, derrotas e muito amor.
Se me perguntarem se faria tudo novamente minha resposta seria sim, que seguiria a mesma carreira porém com mais tranquilidade e procurando errar menos.
Mas educadores são assim, ainda que errem não desanimam e buscam sempre seguir em frente, seguindo o sonho de um amanhã melhor, transformando seres humanos, tornando-os seres melhores.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Palavras num guardanapo

E aqui
num guardanapo de bar
surgem palavras
que tentam abrandar
o que sinto
o que faz bater mais forte
o coração dos sentimentos.
Em branco outrora,
fez-se palco
do poeta solitário
na mesa do bar
que canta
que ri
que escreve
o que sente
preenchendo de palavras,
de palavras de tinta,
um simples
guardanapo de papel
cúmplice que se tornou
do sentir
do poeta,
ora solitário,
ora livre para voar
preso em gaiola
que escolheu para si.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Não dá pra entender!

Existem coisas que

por mais que tentemos

não conseguiremos entender...

a vida...

mulheres...

MULHERES!

Quando Deus as fez

jogou fora

o manual de instruções

e até hoje o homem insiste

em encontrá-lo

ou pior,

em escrever um novo.

Pobre coitado!

Por mais que tente,

na sua racionalidade masculina,

perde tempo

em entender algo

que não se faz entender.

Quando querem algo

transformam o mais forte

dos mortais

em fracos;

naqueles que nada conseguem

quando o coração fala mais alto

e a razão insiste em dizer o contrário.

Cale-se razão!

Cale-se o coração!

Que nada...

Quando Deus fez o homem

lá no seu projeto

colocou que um ser iria tirar o seu sono,

deixá-lo intrigado,

triste,

feliz,

louco ou

desencontrado.

Não queria o mal do homem,

apenas dar-lhe companhia

e o fez com maestria

pois desde então

o homem,

mesmo desassossegado

busca sua companheira

para completar sua vida

tirando-lhe o sossego

mas dando-lhe

amor,

carinho

e vida.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Na caverna

Deitado sobre a pedra fria,
da fria caverna
de minh´alma
olho pro negrume do teto
onde um único ponto
insiste em iluminar...
... a luz da minha vida
que ainda insiste em brilhar.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Dúvidas Chocolatianas (Para Tânia)

Será que o chocolate

late?

Ou late o choco

no café com late?

Late o choco

choco do ovo

de Páscoa

que late

no chocolate

que deixa de latir

mas late

no café?

É tanta confusão

que me lambuzo

da massa,

do pó,

do doce,

do chocolate...

como se este fosse

o doce mais doce

e não o doce de batata doce.

ai que confusão!

mas o que importa

é que é doce,

doce confusão

que late daqui

late de lá

chocolate

café late

no leite

no doce

aroma

do choco,

do chocolate

que mesmo sem latido

late

chocolate!

domingo, 11 de julho de 2010

Manifesto do Eremita

Segue teu caminho...

Não te seguirei ou

quero que me sigas...

diante de tudo e de todos

declaro para o mundo

que eremitas se fazem

a partir da solidão

que lhes é infligida

por aqueles que um dia

cruzaram suas vidas

e da mesma forma,

um dia...

se esqueceram disso.

Parte rumo aos teus passos

conforme a vida lhe mostra

e diz ser o correto.

Esqueceste de vínculos

e de quantos influenciou

ao mudar teus rumos.

Machucaduras no peito do eremita

nunca cicatrizam,

ainda que faça uso

de bálsamos com ervas

colhidas no amargor de sua solidão.

Sinto-me eremita

ainda que com pessoas ao redor

pessoas que um dia fizeram parte

de minha vida e que agora

ao seguirem seus rumos

esquecem-se de olhar para trás.

Não os vejo ingratos...

egoístas e desmemoriados talvez

por não se lembrarem de outras vidas,

vividas, influenciadas

compartilhadas.

Segue teu passo

não olhes para trás

não faço parte de tua vida

de tua nova caminhada.

No fundo de minha alma,

ora transformada em caverna

sigo rumo aos passos

do eremita,

que ora se manifesta,

naquele que se isola

cansado de sofrer.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Busca


Tanto tempo passei
me buscando...
acordei hoje
sem lembrar ontem
mas com passo que buscavam
respostas do meu eu.
Perdido,
vaguei tristonho,
choroso,
prantos da alma
sem rumo,
sem remo
nas águas do
mar da vida.
Busquei incansavelmente
meu caminho
para meu eu.
Dúvidas! Medos!
Questões! Anseios...
Carga pesada
sobre meus ombros
de andarilho
perdido...
em busca
do eu
que não sei quem é,
quem sou
onde vou...
em busca do eu.

domingo, 2 de maio de 2010

Migalhas

Contento-me com migalhas

que me são lançadas

por mãos caridosas

como a alimentar

a fome que me vai na alma,

no coração...

Migalhas que já não me satisfazem,

que não saciam minha fome,

a dor da solidão,

o vazio que me vai na alma.

Migalhas que já nem sei se quero

que penso em deixar ali,

no chão, onde foram lançadas

para que aquelas mãos,

aqueles olhos,

aquele coração

perceba

que de migalhas

não se vive em plenitude.

Talvez seja hora

de bater asas para longe,

esquecer das mãos que

ali,

por tempos,

lançaram as mesmas migalhas

que me satisfaziam,

me deixavam feliz,

sorrindo,

como se viver fosse isso.

Voar, no entanto,

seria libertar-me

dos grilhões do solo,

para poder receber

o calor do sol,

em outros céus

de outros azuis,

sem olhar para trás,

sem nem mesmo

lembrar do gosto

das migalhas outrora recebidas.

As asas se abrem ao sol.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Difícil

Difícil apenas ver-te
sem que meus lábios
toquem os seus,
sem que nossas mãos
se entrelacem...
dedos entrelaçados,
corações unidos;
sem que nossos braços
se abracem,
sem que nossos sentimentos
eclodam.
Difícil apenas pensar
no que sinto...
no que vai em seu coração...
Sonhos e sensações
interpretados pelo coração
de quem sente,
nem sempre reais,
duvidosos muitos!
na esperança
de quem sente,
no desejo dos lábios,
no desejo do beijo
como a selar
os sonhos,
tornando-os reais.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Saudade

Saudade

é como um bicho

que insiste em devorar

o coração de quem a sente.

Difícil dizer o tamanho e a espécie

do tal que insiste em incomodar, roer, mastigar.

Pior de tudo

é que saudade não tem cura,

não morre ou poder ser morta,

continua ali, crescendo

mastigando, roendo

fazendo doer o coração e até a alma.

Saudade de quem amamos,

de quem queremos por perto

e que mesmo quando vemos,

por minutos, horas, dias

ao viraemos as costas,

e nos despedirmos...

a saudade vem de novo

e recomeça a roer.

Bicho danado de dente doído!

Saudade, no fundo, no fundo

até que é boa de se ter,

porque saudade só temos

do que é bom,

de quem amamos,

do que nos fez bem.

Saudade do mal

não existe,

ninguém quer reviver

o mal que sentiu

e a dor que ele causou...

saudade só existe

quando mexemos nela,

coçamos daqui e dali

um pouquinho mais pro ladinho

e ela responde,

rói, roendo,

dói, doendo...

mas uma dor diferente

custosa, mas de força maior.

Saudade não acaba,

muda de lugar

insiste em remoer o coração

de quem a tem,

quem a contraiu

ao amar alguém

que nem sempre

está fisicamente perto.

Saudade na verdade

É cutucão de quem a sente

para não esquecer

que quem está longe,

está na verdade

dentro do coração

e da alma

de quem ama.

sábado, 16 de janeiro de 2010


Para começar o ano divido com vocês essa maravilha escrita pelo querido Mário Quintana!!!!


Os poemas

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti.