sexta-feira, 23 de março de 2012

Sexta carta ao filho

Meu filho,

Hoje quero falar com você sobre caminhos e escolhas!

Em muitos momentos de nossas vidas nos vemos diante de uma encruzilhada com vários caminhos à nossa frente sem saber qual devemos escolher. Não há uma resposta para essa dúvida! Uma frase que ouvi há muito tempo me acompanha sempre. Sua autoria é incerta pois atribuem sua elaboração a muitos, entre eles Antonio Machado Ruiz. A frase é simples: “Caminhante, são teus passos o CAMINHO e nada mais; caminhante, não há caminho: faz-se o caminho ao andar.”. Acredito que essas poucas palavras traduzam a grandeza de nossas escolhas quanto a que caminhos seguir. É através de nossos passos que vamos construindo nosso caminho. Nos caminhos encontramos pedras, lama, perigos, alegrias, flores e um sem número de elementos que nos servem de pontos para avaliar se nossa escolha foi correta ou não.

Enquanto caminhamos surgem obstáculos e perigos que podem nos impedir de chegar ao fim desta caminhada ou ao encontro daquilo que objetivamos para nossa vida e por isso a escolha de caminhos deve ser muito bem pensada para que não nos arrependamos depois.

Se obstáculos são inevitáveis não poderemos fugir deles, mas poderemos nos precaver para não nos ferirmos neles. Se há buracos no caminho precisamos ficar atentos para não cairmos neles. Tombos fazem parte de nossa vida, mas não quer dizer que tenhamos que cair sempre. Cair tem que ser uma escolha e está intimamente ligado às outras escolhas de nossas vidas.

Ainda nos caminhos escolhemos aqueles que nos acompanharão e é aí que as coisas podem dar certo ou errado pois companheiros de caminhada nem sempre o são de verdade. Podem ser aqueles que caminharão ao nosso lado por um tempo, por algumas léguas mas que podem nos deixar na primeira encruzilhada ou se porventura não optarmos pelo mesmo caminho por eles escolhidos, caso firam nossos valores por exemplo. Outros serão companheiros para as festas e alegrias mas, faltando isso, não estarão sempre ao nosso lado. Podem ainda nos deixar para trás quando caímos ou nos ferimos precisando da ajuda física, emocional ou espiritual. Nestas horas somente poderemos contar com aqueles que verdadeiramente nos amam e compactuam os mesmos valores.

Há uma frase popular que diz “Diga-me com quem anda e te direi que és!”. É importante refletirmos sobre ela no sentido que não é por andarmos com aqueles que estão fora de nossos valores necessariamente teremos de ser como eles. As escolhas são individuais e quando pautadas em valores verdadeiros, firmemente enraizados em nossos seres, necessariamente não precisaremos nos perder. As águas fortes de um rio, caminhando rumo ao mar, passam por águas barrentas, pântanos mas seguem corajosamente em frente, sem que a contaminação as impeça de desaguar no mar, de alcançar seu objetivo maior.

Ao escolhermos um caminho, qualquer um deles, podemos ou não contar com aliados que realmente dariam a vida por nós. Esses aliados, no entanto, não são obrigados a nos seguir no caminho escolhido caso não seja um caminho baseado em seus valores também. Eles nos alertarão, insistirão para que repensemos e poderão até se cansar de fazê-lo tantas vezes quando não ouvimos de verdade, quando as palavras são apenas repetidas e se perdem ao vento por não fazermos dela elementos de nossas vidas. Aliados, no entanto, são valiosos em nossas vidas pois poderemos contar sempre com eles, irmanados por valores maiores refletidos em vidas únicas com objetivos semelhantes. Não vale a pena perdê-los!

Escolher é algo que depende apenas de cada um de nós e não necessariamente faremos as mesmas escolhas! Porém, a partir das escolhas feitas, precisaremos lidar com as perdas e os ganhos que elas nos trarão e por isso é tão importante pensarmos bastante antes de assumirmos este ou aquele caminho. Será que as perdas compensarão em relação aos ganhos? Será que as perdas poderão ser revertidas quando cairmos em si das escolhas feitas? Nem sempre! Algumas perdas, quando consolidadas, não oferecem a opção de retorno. Se escolhermos um caminho para solidão dos nossos passos, deixando de lado aqueles que realmente estão em nossas vidas poderemos deixar para trás uma vida que não terá volta e precisamos refletir sobre o peso destas perdas.

Talvez você esteja se perguntando se sempre fiz as escolhas corretas em minha vida. Lógico que não e algumas tive que amargar as consequências e as perdas que me trouxeram. Algumas puderam ser revertidas e outras, das quais me arrependo, não! Ainda erro e como todo ser humano seguirei errando mas assumi um credo pessoal ou um mantra que me alerta quando me deparo com alguma escolha muito importante em minha vida. A frade é de um xamã norte-americano chamado Don Juan e é assim: “Qualquer caminho é apenas um caminho e não constitui insulto algum – para si mesmo ou para os outros – abandoná-lo quando assim ordena o seu coração. (...) Olhe cada caminho com cuidado e atenção. Tente-o tantas vezes quantas julgar necessárias... Então, faça a si mesmo e apenas a si mesmo uma pergunta: possui esse caminho um coração? Em caso afirmativo, o caminho é bom. Caso contrário, esse caminho não possui importância alguma.” Posso te dizer que muitas de minhas escolhas se basearam neste julgamento e você é prova cabal disso.

Termino esta carta, meu filho, pedindo que além de refletir sobre as palavras anteriormente escritas, complete sua reflexão com a frase de Antoine de Saint-Exupéry, “Eis o meu segredo: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos. Os homens esqueceram essa verdade, mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.”.

Continuo te amando.

Um beijo,

Seu pai

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