terça-feira, 20 de março de 2012

Terceira carta ao filho

Meu filho!

Faz um tempo que não te escrevo. Não por não ter assunto mas sim por não parar para fazer uma carta para você. Aliás, como já disse algumas vezes, a carta tem um poder maior do que as palavras faladas pois, de posse dela, é possível retomá-la e refletir muitas e longas vezes sobre o que está escrito.

Refletindo chego a conclusão que filhos mudam radicalmente a vida de qualquer pessoa. Nada é como antes com a chegada daqueles que consumirão a vida de quem os ama de forma incondicional, ainda que isso nem sempre fique claro.

Sua chegada em minha vida fez com que muitas coisas mudassem em minha forma de viver, de tocar o barco, pensando só em mim, para dividir meus pensamentos com você e com sua vida também. Essa mudança de pensar acaba transferindo alguns poderes ao filho de forma que ele passa a ter o poder de alegrar, magoar entre outros que se desenvolvem na relação pai e filho. Com você não é diferente!

Você fez escolhas que não são de meu agrado, que não aprovo mas por outro lado vejo você respeitando meu papel e exigências de pai quanto a isso. Na sua cabeça essa escolha te daria autonomia, pelo menos para ir e vir. Conversemos sobre autonomia!

Autonomia é muito mais do que ir e vir, do que se achar crescido demais para fazer o que bem entender e não dar satisfações ao mundo. Autonomia exige maturidade e isso ainda lhe falta! Autonomia exige ter a capacidade de resolver sua vida sem precisar do apoio daqueles que te cobram e que muitas vezes, em sua forma de falar, enchem o saco com as cobranças. Autonomia exige que você se assuma e toque seu barco ainda que em águas tempestuosas, sem ninguém para segurar o leme quando o mar bravio insistir em te tirar do rumo certo. Autonomia exige viver os valores ensinados e combinados ainda que a tempestade te tire a visão do oceano por onde navega. Autonomia é isso e muito mais e me desculpe a franqueza de pai, ainda falta muito para você atingi-la.

Outro poder que o filho tem é de chatear o pai pela falta de coisas simples. De sua escolha, por mais distante que eu queira me manter, que você insiste em me colocar próximo, dividindo comigo algumas coisas, esquecendo porém, que o mais importante, que saiu de sua boca, você não tem dividido. A comunicação melhoraria, foi o que ouvi de você, mas isso não aconteceu. Aí me pergunto: por que me preocupar tanto, me chatear se isso é algo só meu? Se enquanto me chateio e me preocupo, você tem coisas mais importantes para viver e fazer e não se preocupa com o que vai na minha mente?

Insegurança como você costuma dizer sempre, como a usar uma arma que você ainda não percebeu que já perdeu seu fio. Insegurança não entra em questão aqui mas sim a preocupação somente minha. Aí fico pensando se não deveria estar chateado com você e sim comigo por permitir que você use seu poder de filho para me chatear. Se te dei esse poder, a culpa é minha e agora preciso pensar em como tirá-lo de você para que possa viver sua autonomia sem que eu o perturbe pois de que vale a chateação se algumas coisas não vão mudar?

Quando você chegou em minha vida, alguns valores já estavam em você, valores diferentes dos meus e muitos novos você assumiu, incorporou e se modificou, valores que nós construímos juntos e que agora, pela segunda vez peço que pense: são esses os valores que você realmente quer seguir? Pois como já te disse os outros valores são incompatíveis e com eles não teremos a harmonia que eu sonhei para nossa vida como pai e filho.

Escolha seu caminho, siga-o mas não se esqueça que eu não tenho que, obrigatoriamente, estar nele caso seu caminho seja muito distante daquele onde marco meus passos. A vida ensina e muito te ensinará e algumas coisas somente quando tiver seu filho ficarão claras para você. Pense! Use sua inteligência e sensibilidade para perceber o que está nessas palavras e o que ficará ou não com você. Como disse no começo, uma carta deve ser lida muitas vezes e refletida mais vezes ainda. As palavras são mágicas e nos trazem significados ocultos. Encontre-os!

Por ora é isso meu filho. Penso em como não me chatear e conseguirei isso com certeza, com consequências sempre, mas pelo menos com a razão imperando onde a emoção e o sentimento não tem feito eco e falhado incessantemente.

Palavras quando não se tornam atitudes são vazias e se perdem ao vento. Somente quando assumimos algumas atitudes é que elas se consolidam e modificam nossa forma de agir isso é, quando queremos mudar!

Continuo te amando!

Um beijo,

Seu Pai!

2 comentários:

  1. Seria impossivel não ler este texto e não se identificar com ele, qts vezes nós enquanto "filhos" magoamos as pessoas mais importantes que temos, ou deveriam ser assim , nossos pais, sei que maturidade vira com o tempo ao seu filho e não se magoe , vc tbm foi filho um dia e sabe que logo tudo isso vai passar e ele voltara para os seus braços de pai...

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