quarta-feira, 3 de junho de 2009

Palavras de Tinta


O poeta escreve o que sente. Escreve na ponta da pena, com tinta, o que lhe passa no coração. O coração, este músculo cuja função orgânica é bombear sangue pelo corpo vivente assume outro significado quando escrito e descrito pelo poeta.

O poeta sofre calado e mudo em sua voz tonante, que emana de sua garganta, dando voz às palavras de tinta que imprime com significados diversos, refletindo sentimentos conflituosos ou de amor, sentimentos puros ou impuros, castos ou devassos, resultado de sua transmutação do mundo em letras, palavras, frases, tinta!

Ai, o coração do poeta! Este coração que bate tanto quanto o de qualquer outro ser vivente é capaz de entre uma batida e outra traduzir tal som em mil palavras de tinta que por vezes insiste em declamar, algumas vezes para públicos invisíveis ou surdos à sua voz rouca, cansada. Poeta insiste em escrever e dizer que sua poesia não é aquela igual a do outro poeta que insiste em dizer que sua poesia não é igual a daquele poeta.

Poeta é louco! Um ser difuso e confuso, misto de alquimista e santo-demônio, capaz de transformar sentimentos, ora feridos, ora ruidosos, em palavras que se imortalizam pela sua conjunção nas linhas tortas ou retas, quentes de uma pena ou frias na tela de um monitor. Uma coisa, das palavras de tinta dos poetas deve-se dizer, elas traduzem suas inspirações; musas que insistem em fugir, por medo, descaso, loucura... descritas tão belamente em palavras que as colocam sempre perfeitas. Perfeitas sempre pois é assim que os olhos do poeta as vêem.

Se a vida cobra um preço para fazer calar a poesia, o poeta resiste. Poeta é um forte! Um lutador com palavras e imagens que insiste em projetar na mente de quem o lê ou ouve na praça lotada ou vazia, poluída, de cidades ruidosas, numa voz que insiste em dizer que, ainda que tudo esteja cinza, há luz na vida e na poesia que nela se forma.

Poeta é como o pintor que observa a luz para traduzir de sua paleta para a tela, o que seus olhos captam. Poeta capta a força da vida e traduz em palavras, transmutando o que viu em sentimentos, em palavras que soam como sinos ou como a ária de uma ópera, aquela que continua soando mesmo depois que as cortinas se fecham. Sons que são gravados na mente de quem presenciou sua arte. A poesia, por mais apertado que seja o local ou o acesso, encontra na mente de quem a ouve, um lugar para edificar sua morada. Ah que inquilina barulhenta é a poesia! Mesmo quando estamos deitados, acordados ou dormindo ela não para de tagarelar e nos fazer pensar em tudo aquilo que aquelas palavras de tinta nos faz projetar em nossas mentes cansadas em busca de repouso, o repouso dos justos. Mas olha, vou te dar um conselho, conselho de quem vive com a poesia sempre em sua mente, com poesias que já fizeram condomínios e insistem em fazer barulho. Aceite o convite e faça bastante barulho também. Brinque com as poesias e sua palavras de tinta, suas verdadeiras almas desgarradas que insistem em convidá-los para a festa. Brinque de inventar poesias, misturar o que estiver por ali, faça as suas palavras de tinta, a partir das almas delas. Deixe a tinta da poesia adentrar sua alma e descubra em você a inspiração de ser poeta. Muitos dirão: que loucura de poeta louco (com redundância que é para ficar bem firme a afirmação)! E eu direi: que nada! Ainda que você não saiba colocar sua poesia em palavras de tinta, faça-a soar em sua vida. Escreva sua poesia com a vida que você recebeu, observando manhãs e ocasos, o verde das folhas, a cor e perfume das flores, a limpidez e frescor da água, o ar, o vento, a brisa, a chuva e aí você perceberá que as palavras de tinta de um poeta são muito mais do que palavras, são fotografias da vida vivida, sentida, criada, recriada a partir dos olhos e da alma de quem sente e enxerga poesia nos menores recônditos do mundo e ainda faz a pequena letrinha pular e pedir alento esperando a alma e o coração do poeta para, dando-lhe a mão, escrever em tinta na alma de quem o encontrar, imprimindo-lhe valores e marcas, nunca cicatrizes, a todos os que são alcançados pela força de sua poesia.

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